quinta-feira, 5 de novembro de 2015

La Vie en Rose

Se estivesse viva, Édith Piaf completaria cem anos em dezembro de 2015. A vida da cantora francesa foi marcada por mágoas e sonhos perdidos, mas ainda assim ela deixou uma mensagem para o mundo através de seu maior sucesso, a música La Vie en Rose. De forma visceral, la môme cantou sobre como um singelo abraço e breves palavras de seu amado faziam com que ela visse sua tão sofrida vida em cor-de-rosa – e aí brotava em seu coração a esperança de que tudo ficaria melhor. 

Acontece que o rosa sofre. Tem gente que passa longe dele a vida inteira. As crianças aprendem cedo que “é cor de menina”, e a publicidade obviamente fomenta isso colorindo vestidinhos, sapatinhos e fogõezinhos de brinquedo com essa cor segregada por uma sociedade cheia de normas. Quando o gênero, a sexualidade ou até mesmo os objetivos de vida de uma pessoa não são iguais aos de quem dita as regras, o rosa lhe é atribuído como se fosse uma marcação a ferro quente, para deixar claro que tem gente que vale menos do que outros nesse mundo. Mas, mesmo com os ataques dos chefes dessa sociedade de “machos dominantes”, as vozes dissonantes gritam cada vez mais alto – e elas gritam por um mundo cor-de-rosa. Gritam por um mundo no qual a diversidade deve ser apreciada. Essas vozes entendem que o rosa-choque, rosa-chá, magenta, salmão, cereja, coral, fúcsia e muitos outros tons têm um destino maior do que estarem presentes apenas em catálogos da Pantone e em coleções de batons para a primavera.

Infelizmente, para Piaf, o rosa acabou desaparecendo. Aos  47 anos, ela morreu doente, deprimida e, o pior de tudo, descolorida. Mas sua voz, entonando uma singela e intimista busca pela felicidade, ecoa nos corações das pessoas, até aquelas que não entendem francês. Em cada carícia, em cada beijo, em cada ato de amor ao próximo, brilha uma aura em tons de framboesa. Claro, é lógico que nossa vida precisa de todas as cores do espectro. O vermelho do sangue, o azul do céu, o verde das folhas, o marrom dos troncos e do mar de Tramandaí. O rosa, contudo, é subjetivo. É a cor que nasce dentro da gente, e só ultrapassa a barreira dos nossos corpos quando entendemos a importância de irradiá-la.

Tomara que mais pessoas possam ter a oportunidade de ver la vie en rose. É esse o único caminho para um mundo mais justo, mais bonito, mais brilhante. É esse o único caminho para le monde en rose.